A partir de 1987, já com Jaime Filipe completamente paralisado e acamado, a Associação Portuguesa de Criatividade (APC) procurou tornar realidade uma ideia de Jaime Filipe - a transformação do CIDEF num Instituto de Engenharia de Reabilitação. O edifício para esse projecto começou a ser construído em Benfica, impulsionado pelo dirigente da APC - Dr. Manuel Dantas e com o apoio do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP). O Instituto ostentaria o nome de Jaime Filipe (Instituto de Engenharia de Reabilitação Jaime Filipe) e deveria contemplar três grandes áreas: 1 - Investigação; 2 - Engenharia de Reabilitação e 3 - Formação profissional nas novas tecnologias (para pessoas com deficiência). Durante o desenvolvimento do projeto, foi equacionada da hipótese de ser designado de Escola de Engenharia de Reabilitação Jaime Filipe. Este instituto/Escola não se concretizou com este formato, mas o CIDEF tornou-se num Centro de Reabilitação Profissional protocolar com o IEFP, em 1992, mantendo actividade nestas três áreas.
Em 24 de Outubro de 1987, o jornal Semanário, publicou a seguinte notícia sobre este projeto:
Quando se tornar finalmente realidade, o Instituto de Engenharia de Reabilitação ostentará o nome de Jaime Filipe. Nada mais justo: este supermedalhado inventor português tem posto o seu génio inventivo ao serviço dos deficientes.
Jaime Filipe - um inventor ao serviço dos deficientes
Campeão dos inventos em Portugal, o eng.º Jaime Filipe distinguiu-se sobretudo pelo seu trabalho criativo na área da engenharia de reabilitação, tendo inventado alguns aparelhos importantes para o deficiente se poder integrar mais facilmente na sociedade.
Reconhecido internacionalmente (as suas sete medalhas de ouro atestam esse reconhecimento), entre nós eng.º Jaime Filipe não viu compensada a sua imaginação da forma que desejaria. Como a maioria dos inventores portugueses Jaime Filipe sentiu também a indiferença a falta de apoio quando se tratava de industrializar um seu projecto, chegando mesmo a ver as suas ideias aproveitadas por outros.
Isto mesmo aconteceu, por exemplo, com a criação de um aparelho que em 1957 podia ter dado a Portugal o privilégio de ter sido mais uma vez o primeiro numa área tao sensível como é a de levar a imagem a pessoas cegas. De facto, naquele ano Jaime Filipe concebeu um aparelho que, usando técnicas de televisão (com as quais ele estava familiarizado porque trabalhava na RTP), permitiria aos cegos ter uma espécie de visão táctil das imagens circundantes.
Dirigiu-se, então, à Fundação Calouste Gulbenkian com o propósito de pedir subsídios que lhe permitissem por o projecto em prática.· A resposta foi negativa. Por outro lado, não pediu auxílios oficiais pois naquela altura não sabia onde e a quem fazê-lo. Um dia, num contacto com os directores duma associação de cegos, depois de ter feito a sua exposição sobre o projecto, ouviu dizer: «Isso não deve ser possível porque se fosse já os americanos o tinham feito.» Contactou também com a Fundação Martim Shine dos Estados Unidos onde a sua ideia foi bem recebida mas não passou além disso.
Reinventar
Por alturas de 1965. Dois investigadores norte-americanos, Back-Y-Rita e Carter Collins, viam reconhecidos internacionalmente os seus estudos e experiências sobre um projecto. Falava-se então numa descoberta. E que fizeram afinal estes dois norte-americanos? Reinventaram um aparelho inventado por um português e registado em 1959 no Departamento de Patentes com o nome de "Electrovisor» - o sistema visuotáctil de que Jaime Filipe foi o percursor é hoje uma realidade com o Optacon, um aparelho já mais aperfeiçoado e que tem sido utilizado no ensino para cegos.
Outro dos inventos mais significativos, do mais premiados dos inventores portugueses e membro da Rehabilitation and Engineering Society of North America, é o “Basil”.Trata-se de um aparelho que levou quatro anos a ser concebido e que serve para avisar o surdo da presença de um som através de um pequeno vibrador. O segredo da ideia é um motor que trabalha a alta velocidade com uma peça excêntrica que provoca vibrações, e o aparelho utiliza-se no pulso podendo vir a ser acoplado a um relógio. O aparelho foi baptizado com o nome de “Basil” em homenagem a uma tia do inventor Basilisa Pedrosa - que se suicidou depois de ter ensurdecido completamente. A comercializaçao do “Basil” no nosso país foi dada como certa pela Centrel, mas até hoje, nada.
A falta de interesse da nossa indústria pelos trabalhos criativos dos inventores portugueses não diminuiu o poder de imaginação de Jaime Filipe que, entre os seus inventos, conta com um outro premiado internacionalmente: o elevador manual de cadeiras de rodas. Portátil, este elevador funciona através duma manivela que acciona engrenagens e correntes instaladas em duas barras que, por sua vez, fazem elevar uma plataforma para as cadeiras de rodas. Este invento destina-se a possibilitar o acesso de deficientes quer a pisos superiores de um edifício quer a: veículos automóveis.
UM SONHO
Verdadeiro marco na história da inovação e das novas tecnologias para os deficientes e que possibilitará um forte desenvolvimento na área da reabilitação, é, sem dúvida, a construção do futuro Instituto, de Engenharia de Reabilitação, em Benfica. Trata-se de um sonho do eng.º Jaime Filipe até há pouco tempo responsável pelo CIDEF, e a APC decidiu apostar empenhar-se na concretização do projecto. Já existe o terreno, cedido pela Câmara Municipal de Lisboa mas, de acordo com Manuel Dantas, “há quem pareça não estar muito interessado na concretização deste projecto, se atendermos às dificuldades que nos têm surgido” .
Financiada pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional, a construção do edifício, que implica um investimento de 100 mil contos, começou há cerca de um ano mas no início de Julho as obras pararam. O IEFP não paga à empresa construtora desde Fevereiro e aquela decidiu não continuar com as obras.
Neste momento, a dívida à empresa já atingiu os 45 mil contos. O caso parece complicar-se uma vez que se sabe que o anterior ministro do Trabalho tinha já desbloqueado, em Julho, urna verba de 30 mil contos. Estamos em Outubro e nada foi pago.» Esta situação tem originado no seio da APC uma onda de desânimo, mas Manuel Dantas não quer deixar de se mostrar esperançado na resolução rápida do problema , “até porque está em causa todo um trabalho em prol dos deficientes portugueses”. “O IEFP tem uma grande responsabilidade e deve assumi-la até ao fim” , reafirma o dirigente da APC adiantando que o próprio Secretariado Nacional de Reabilitação, com o qual a associação tem mantido contactos estreitos, defende que “o projecto não pode parar”.
Três áreas
O projecto prevê que o Instituto funcione em três grandes áreas: uma dedicada à investigação, uma outra de engenharia de reabilitação onde serão desenvolvidos meios técnicos para o deficiente melhor se integrar na sociedade, e um terceiro sector, o da formação profissional no domínio das novas tecnologias. A sede da própria associação poderá vir a ser instalada no Instituto de Engenharia de Reabilitação Jaime· Filipe, uma designação que constitui uma homenagem ao grande inventor que dedicou a maior parte do seu trabalho criativo aos deficientes.