25-09-1979 15:09

visita de estudo
aos ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
no âmbito da reabilitação de deficientes físicos

 

Graças a um subsídio (1) concedido pela JNICT, desloquei-me aos E. U. A. com o objectivo de enriquecer conhecimentos no âmbito da ENGENHARIA DE REABILITAÇÃO, novo ramo da tecnologia moderna, em pleno desenvolvimento nos países mais avançados.

Também com ajuda da JNICT foi já possível introduzir em Portugal novas técnicas de reabilitação de deficientes, nomeadamente uma escola para cegos, única no país, funcionando na APC e que tem já um ano de actividade.

Com a colaboração da Embaixada dos Estados Unidos em Lisboa, foram-me facultados contactos em Washington, que espero venham a ter a maior relevância no futuro.

Foi particularmente interessante a visita ao departamento de pesquisa - REHABILITATION ENGINEERING, onde me for dado tomar contacto com diverso material de avançada tecnologia, tal como:

CROSWELL MACHINE, máquina automática de leitura de textos em voz electrónica, para cegos, sistema ampliado de textos para ambliopes, usando técnicas de televisão, central telefónica para telefonistas cegos, de técnica complexa mas de grande eficiência, entre outros aparelhos já nossos conhecidos.

De Washington segui para Palo Alto, para visitar a TSI, verdadeira colmeia de investigadores e fabricantes de aparelhos electrónicos para deficientes, trabalhando em íntima colaboração com os departamentos de pesquisa de diversas Universidades.

Aí assisti a experiências com vários aparelhos, alguns ainda em fase experimental, tais como:

CRIB-O-GRAM para localizar eventuais deficiências auditivas nos recém-nascidos, facilitando assim a sua correcção e tendo em vista a mais rápida aprendizagem da fala. AUTOCOM, para permitir a comunicação com o exterior a deficientes mentais muito limitados. CANON COMUNICATOR, aparelho portátil para indivíduos privados da fala, que regista numa fita de papel a mensagem do deficiente. OPTACON acoplado a um computador que lê em voz electrónica o texto que o cego percorre, linha a linha com a mesma câmara usada num OPTACON normal.

VERSABRAILLE, aparelho que transfere para Braille os textos gravados numa cassete de som. Ainda em fase experimental assisti a experiências com um aparelho que permite a comunicação telefónica entre dois cegos-surdos, por meio de um sistema BRAILLE DUPLO com um dispositivo de chamada por ar.

Foi-me proporcionado contacto com o produtor da televisão americana DICK FARR que, também deficiente, me levou ao seu estúdio para assistir a alguns dos seus programas, o que vivamente me impressionou pela sua excelente qualidade.

Ofereceu-me esses mesmos programas, para serem passados em Portugal, o que espero venha a acontecer.

Também em Palo Alto visitei um grande centro de reabilitação das forças armadas americanas, sendo-me dado observar o excelente apetrechamento do mesmo.

Ainda na TSI foi-me dado assistir a demonstrações com centrais telefónicas para serem accionadas por telefonistas cegos, de modelo diferente das que vi em Washington, estavam a ser preparadas para o Serviço Telefónico da rede pública dos Estados Unidos. Fiquei muito impressionado com a perfeição e o pormenor de meios que estas centrais dispõem.

Da TSI, segui para outra empresa construtora de equipamentos para pessoas quase cegas mas que têm ainda um certo grau de visão. Trata-se da APOLLO ELECTRONIC VISUAL AIDS, onde assisti a demonstrações que muito me satisfizeram.

Espero vir a poder conseguir que um destes aparelhos venha para Portugal pois o seu preço não é muito elevado. Assim consigamos a necessária ajuda.

Não quis deixar os Estados Unidos sem dar um salto a San Diego para tentar um contacto com a importante comunidade portuguesa que ali vive.

A minha intenção era motivada para o trabalho que estamos a desenvolver, e procurar que o CIDEF pudesse ser incluído nos seus planos de auxílio a deficientes, pois conhecia já a sua generosidade e o seu trabalho no campo da educação através de escolas especiais.

Não esperava ser também recebido por parte de destacados membros da comunidade de San Diego. Fiquei vivamente impressionado pela forma afectiva e cooperante como aceitaram a minha missão.

Ficaram os deficientes portugueses com muitos amigos em S. Diego, dispostos a colaborar na medida do possível para ajudar o CIDEF a atingir os seus objectivos.

Foi ainda estabelecido um contacto com a LUIS BRAILLE FOUNDATION FOR BLIND MUSICIANS, em Nova Iorque, na pessoa do seu director, sr. Shell Freund. Fazendo um rápido balanço desta viagem creio poder afirmar que foi um êxito, pela atualização de conhecimentos que nos proporcionou, pelos contactos que estabelecemos podendo estes vir a ser da maior utilidade no futuro faltando agora os necessários apoios em Portugal  para podermos dispor de alguns dos meios técnicos que vimos e que já hoje são indispensáveis para a reabilitação  dos deficientes e para a sua integração na vida activa.

Jaime Filipe

(1) Este subsídio insere-se no âmbito do apoio financeiro da Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica à Associação Portuguesa de Criatividade.

 

Notas de Francisco Godinho: as imagens da 2.ª página do Boletim são idênticas à contracapa do relatório americano  Rehabilitation Engineering - A Plan for Continued Progress II - 1978

Referência: Filipe, Jaime – “visita de estudo aos Estados Unidos da América no âmbito da reabilitação de deficientes físicos”. Inventiva n.º 27. Associação Portuguesa de Criatividade. Jul/Set 1979.

Ficheiro pdf (3,4 MB): Inventiva nº 27 Jul/Set 1979 CIDEF nº 9  

Conversão para formato texto: por OCR e revisão de Francisco Godinho.