Revista Inventiva n.º 26 ABR/JUN 1979 - Boletim do CIDEF nº 8

05-06-1979 14:13

Cabeçalho do Boletim do CIDEF n.º 8 - ABR/JUN 1979

GAME CENTER

Acaba de chegar a Portugal, aguardando-se apenas as formalidades de despacho, mais um precioso aparelho de origem norte-americana, denominado Game Center, e que se destina a formação e recreação de deficientes, particularmente no caso de cegos.

Game Center fará parte do equipamento do Cidef, Centro de Inovação para Deficientes, e é constituído por um computador que dá respostas orais, isto é, fala e permite 8 jogos diferentes, a saber:

Monitor e formanda a utilizarem o OPTACON

PADDLEBALL

O Paddlebal é semelhante a um jogo de ténis em vídeo, mas utiliza mais sinais auditivos do que visuais. Dois jogadores comandam as alavancas e ouvem através de auscultadores ou altifalantes estereo os sinais do jogo. A finalidade do jogo é que cada jogador faça coincidir a bola num ponto de encontro acústico.

CRAPS

Este jogo faz as delícias de qualquer jogador! O Game Center «lança» os dados e diz os valores individuais e a sua soma.» Segue as regras normais do «craps» para este jogo e anuncia os resultados.

SKEET-SHOOT

A finalidade do jogo é «abater» um pombo de barro durante o seu «voo» através de um dos 16 percursos escolhidos ao acaso. Atinge-se um record se qualquer das teclas do percurso for premida enquanto o «pombo de barro» estiver nessa posição.

O resultado é anunciado pelo computador, e o jogo termina quando tiverem sido jogados 16 percursos.

TIC-TAC-TOE

Neste jogo usa-se como quadro uma relação de números no comando. Os jogadores usam teclas mais (+) ou menos (-) para indicar os seus movimentos. Têm sempre a possibilidade de verificar qual o símbolo que ocupa cada espaço no teclado durante o jogo. Este termina quando um jogador conseguir colocar em linha recta 3 símbolos, ou quando todos os espaços tiverem sido ocupados, sendo o vencedor anunciado pelo computador.

THE CHAIN GAME

Este jogo tem por finalidade recordar uma série de números dígitos. Um número dígito criado ao acaso é anunciado pelo computador e o jogador tem que o confirmar premindo para isso a tecla correspondente. A medida que os dígitos forem verificados correctamente, o Game Center adiciona mais um à série. A medida que o jogo progride, vão-se acrescentando dígitos que terão que ser recordados. O jogo termina quando um dos jogadores errar.

BLACKJACK

O jogador compete com um «jogador» electrónico que diz o valor das «cartas» dadas. O jogador pode pedir mais cartas ou ficar apenas com as que foram dadas. O jogo segue as regras básicas do Blackjack.

Se o jogador ganhar a mão, o Game Center anuncia a vitória dizendo «root!, root!, root!».

TUG O'WAR

Dois jogadores (+) e (-) defrontam-se tentando cada um ser o primeiro a  premir a tecla quando se produzir um «beep» elecrónico. Ganha o jogador que conseguir um total de 5 «tugs» mais que o adversário, sendo indicado como o jogador vencedor.

NUMBER RUN

Numa corrida contra relógio, o jogador tem que verificar números dígitos ao acaso premindo a tecla correspondente. Cada dígito é anunciado pelo computador quando o anterior já tiver sido confirmado. Quando tiverem sido confirmados 20 dígitos, é anunciado um resultado que estabelece uma correlação com o tempo gasto. O Game Center anuncia quando o jogo terminar, caso os jogadores não consigam confirmar rapidamente os números dígitos.

 

Como se vê, o Game Center é um precioso elemento didáctico e também recreativo, permitindo aprender divertindo. Em breve ao dispor dos deficientes portugueses, esperando podermos apresentá-lo num próximo programa.

 

«OSSO DE LABORATÓRIO» SEM PERIGO DE REJEIÇÃO

Cientistas holandeses acabam de conseguir preparar um «barro» que se transforma em tecido ósseo, evitando assim os fenómenos de rejeição ou de isolamento nos tratamentos de fracturas.

Este «osso de laboratório», poroso de tal modo que pode ser rapidamente penetrado pelos tecidos que envolvem os ossos, até mesmo pelos vasos sanguíneos, tem propriedades idênticas às dos ossos naturais.

As células que o formam «vivem», ou seja, decompõem-se e reconstituem-se à medida que o tempo passa.

Graças a este sucesso, parecem abrir-se novas possibilidades à cirurgia óssea, tanto mais que o processo permite o fabrico de materiais artificiais adaptados a ossos específicos.

A firma Philips, que anunciou esta descoberta, salienta que o novo «barro», já experimentado em coelhos, correspondeu às esperanças dos cientistas.

O «barro», inventado por JGJ Peelen do Laboratório Philips, BV Rejda e K. de Groot, da Universidade de Amsterdão, é constituído por trifosfato de cálcio-hidróxido, água e um aditivo, elementos que são intimamente misturados até à formação de uma pasta, a qual seca num molde, depois de cozida a uma temperatura compreendida entre os 1100 e os 1400 graus centígrados.

 

PRÓTESE PARA SUSTENTAÇÃO DA COLUNA VERTEBRAL

Ortótese da coluna vertebral

Inventor, português, membro do CIDEF. A doença ocasional inesperada estimulou a sua criatividade.

Em vez de se 'ficar pelo desânimo e pelo sofrimento, decidiu reagir. A doença súbita estimulou o seu espírito criador, e o invento surgiu.

Um simples aparelho, mas muito bem concebido, e por ele próprio executado, aliviando-lhe o sofrimento, permitiu-lhe uma rápida recuperação a caminho da cura, quando tudo parecia indicar que só com difíceis e dolorosas intervenções o seu caso poderia ser atenuado.

Nunes de Oliveira não se ficou apenas pela resolução do seu problema. Entusiasmado pelo êxito obtido, pensou nas outras pessoas, com sofrimentos idênticos.

Conhecedor da existência da Associação Portuguesa de Criatividade e do seu departamento CIDEF, veio até nós com o seu invento e o seu entusiasmo.

Entrevistado na TV surgiram outras pessoas ao seu encontro, desejosas de aliviar também os seus males.

Nunes de Oliveira, construiu aparelhos e obteve alegrias com os resultados por eles proporcionados.

Por exemplo, o Sr. Eduardo Morais, depois de um grande acidente de automóveis sofreu cinco operações, só se podia mover transportando um incómodo e pesado aparelho de gesso. Tinha a 6.ª operação marcada. As dores eram violentas. Reinava o desânimo!

Nunes de Oliveira construiu-lhe um aparelho. Ao cabo de algum tempo, Eduardo Morais sentia-se aliviado do seu problema, e já conduzia o seu carro.

Não cremos que o aparelho seja a cura milagrosa para todos os males da coluna mas estamos seguros de 'que é um precioso auxiliar que está dando os seus óptimos resultados pelo que é necessário divulgá-lo e aperfeiçoá-lo para alívio de tantos doentes quer nacionais quer estrangeiros pois, que se saiba, este é um invento português ainda desconhecido nos outros países.

José Nunes de Oliveira

 

OPTACON NO PORTO
Leitura de um documento impresso com o OPTACON

Conhecidos os extraordinários resultados obtidos pelos cegos na leitura de textos impressos, com o emprego do Optacon, após a frequência dos cursos actualmente ministrados no CIDEF, na cidade de Lisboa, aquele aparelho foi levado ao Porto por uma equipa de monitores para que os cegos do Norte de Portugal tomassem contacto directo e conhecessem a técnica de leitura com o referido aparelho.

A oportunidade que o Optacon teve de ser conhecido no Porto, resultou do convite que o Centro do Material para Deficientes Visuais fez ao CIDEF, para se deslocar àquela cidade aproveitando o facto de ali se realizar, no corrente mês de Junho, uma exposição do referido material.

Instalado numa das salas da exposição, dispusemos todo o material didáctico necessário para se fazerem as demonstrações do funcionamento e da utilização do Optacon.

A expectativa de contactarem directamente com aquele aparelho levou à exposição centenas de pessoas ávidas de verem e experimentarem como um cego pode ler facilmente a letra impressa.

Em breves minutos as pessoas ficavam inteiradas da forma como se manobravam os controlos do aparelho e como se devia deslocar a câmara para efectuar uma leitura correcta. Dadas estas explicações, imediatamente as pessoas eram colocadas a manobrar o aparelho e a detectar as letras na placa táctil que a câmara captava no seu deslocamento na folha impressa.

O sucesso que o funcionamento do Optacon despertou quer em cegos, quer em visuais, foi estrondoso, pois verificaram que esse sofisticado aparelho tão portátil como uma máquina fotográfica permitia a qualquer cego depois de um processo de aprendizagem relativamente fácil, poder ler o jornal diário, a revista, o livro ou a folha acabada de dactilografar. Também é importante salientar que este meio de leitura vai proporcionar aos cegos uma total independência no acesso directo aos documentos impressos.

A equipa de monitores durante quatro dias, e ao longo de oito horas, esforçou-se por atender e prestar os necessários esclarecimentos a todos quantos se interessaram pelo Optacon e não foram poucos aqueles que o experimentaram.

Entre as numerosíssimas pessoas que verificaram a eficácia do aparelho contaram-se vários professores de Braille, professores liceais e outros ramos de ensino, alunos dos Cursos Superiores, do ensino integrado, etc.

Não faltaram grupos de crianças que também tiveram a curio­sidade de conhecer e experimentar o funcionamento do maravilhoso aparelho.

Cremos que o resultado da nossa missão de divulgação do Optacon será o de levar certas instituições do Porto, como por exemplo a «Associação dos Cegos do Norte de Portugal», a «Biblioteca Municipal do Porto», etc., a adquirirem este aparelho cujo custo ainda elevado não o torna acessível à maioria dos cegos.

 
Refefência: Jaime Filipe - Game Center. Inventiva n.º 26. Associação Portuguesa de Criatividade. ABR/JUN 1979
Revisão da conversão do texto por OCR de Francisco Godinho