Revista Inventiva n.º 17 NOV 1974

05-11-1974 11:36

CIDEF

Centro de Inovação para Deficientes

Medalha da década da reabilitação (1970-1980)

Antecedentes

Diligências efectuadas em 1972, pelo inventor do sistema visiotáctil (Jaime Filipe), junto do ex-Ministério da Educação Nacional, com o apoio da Associação Portuguesa de Inventores. tiveram como consequência a atribuição de um subsidio de 1000 contos, com o objectivo de dar vida a um centro de investigação e formação adequado, a instalar no Instituto Oftalmológico Dr Gama Pinto. Dificuldades burocráticas não permitiram, porém que esta verba pudesse até à data ser levantado, embora esteja já depositada na Caixa Geral de Depósitos aguardando a aprovação duma proposta de utilização. A criação agora de um centro que abra perspectivas mais vastas de acção surgiu por imposição da verificada existência em Portugal, para além de cerca de 20 000 invisuais, de um total de 8000 jovens militares deficientes físicos e de muitos outros deficientes físicos espalhados pelo país

 

Fundação do CIDEF
Símbolo Internacional de Acessibilidade

O CIDEF foi fundado em 25 JUN 74 por Jaime Magalhães Filipe, Fernanda Bivar Weinholtz, Humberto Duarte Fonseca, António Monteiro Alves dos Santos, João Manuel Rangel de Lima. Deonilde Mana Morais, Hermano Carmo.

O Centro funcionará no âmbito da Associação Portuguesa para a Invenção e Inovação (ex-Associação Portuguesa de Inventores), com sede metropolitana na Avenida Almirante Reis n.º 158, 1 º D to em Lisboa, em concordância com os artigos 31.º e 34.º dos seus Estatutos.

O Centro conta desde já com a colaboração valiosa de João Manuel Ruas Ribeiro da Silva e José Alberto de Carvalho Quintela (ambos do Instituto Oftalmológico Dr Gama Pinto) e de Nuno Manuel Vidinha da Encarnação.

 

Finalidade

O CIDEF tem como finalidade promover a investigação tecnológica, introduzir e divulgar novos meios e técnicas novas existentes noutros países, e proceder à formação de monitores com vista à utilização de sistemas inovadores.
 

Objectivos imediatos

A Investigação tecnológica constitui objectivo imediato para proceder ao desenvolvimento de inventos e inovações nacionais, um dos quais já em fase de desenvolvimento nos Estados Unidos da América do Norte (no Smith Kettlewell lnstitute of Visual Science, organismo que vem mantendo estreitos contactos com elementos fundadores do Centro).


Especificando:

Electrovisor - Sistema destinado a dar aos invisuais uma espécie de visão táctil, utilizando processos da televisão. Trata-se de um trabalho registado por Jaime Filipe em 1959 (patente n.º 36 581), antecipando de 7 anos o início dos trabalhos americanos neste domínio, no Instituto atrás mencionado.

Motor linear para músculo sintético - mini-motor electromagnético de novo tipo, destinado a conferir movimentos equiparados aos naturais a amputados, utilizando próteses mecânicas. Criação igualmente de Jaime Filipe.

Sistema Alfabético de Comunicação Ló­gica (SCAL) - depositado em Portugal por Alves dos Santos em 1967 e nos EUA no ano seguinte (com patente concedida em Portugal e processo ainda em curso nos EUA). O Sistema de Comunicação Alfabético-Lógico consiste num conjunto de componentes diversos destinados a seleccionar elementos alfanuméricos de «input» e de «output» com base numa estrutura formal booleana. Concretamente, um dos componentes poderá ter interesse para cegos, surdos­-mudos, paraplégicos, etc. É um «teclado» de número muito reduzido de teclas, de fácil utilização e perfeito rigor de comunicação em termos alfabéticos.


Outras ideias

Rastreio e desenvolvimento de outras ideias no âmbito das actividades do Centro.

Introdução e divulgação de novos meios e técnicas novas.

Contactar os diferentes centros afins existentes no estrangeiro, com o objectivo de recolher dados sobre novos meios e técnicas novas.

Adquirir aparelhagem para ensaio, aplicação e divulgação dos mesmos. Promover o intercâmbio com organismos afins de outros países.

Colaborar com organismos nacionais interessados na resolução dos problemas dos deficientes físicos.


Formação de monitores

Preparar pessoal monitor para utilização generalizada de aparelhagem ensaiada, desenvolvida ou importada através do CIDEF.

 

Apoio financeiro

No sentido de concretizar os objectivos expostos, considera-se fundamental: Autorização para que a verba de 1000 contos concedida pelo Ministério da Educação e depositada na Caixa Geral de Depósitos em nome do Instituto Oftalmológico Dr. Gama Pinto seja transferida para a conta da Associação Portuguesa para a Invenção e Inovação (ex-Associação Portuguesa de Inventores) e posta à ordem desta, condicionada à utilização exclusiva pelo CIDEF.

Dado o elevado custo da aparelhagem a adquirir e a desenvolver e os encargos necessários ao apetrechamento inicial do Centro, tornam-se necessários outros substanciais apoios financeiros, provenientes de outras entidades, nomeadamente: do Ministério da Defesa Nacional e do Ministério dos Assuntos Sociais, pelas incumbências e responsabilidades que lhes são inerentes neste domínio. Acresce que qualquer apoio material terá de revestir carácter cíclico para que se possa garantir a projecção do Centro no futuro.

O apoio continuado que se solicita no Memorando ao Ministério da Educação e Cultura, «para que se possa garantir a projecção do Centro no futuro», tem em vista assegurar a cobertura da maioria dos encargos permanentes do CIDEF a saber:

- actualização regular de uma biblioteca especializada;

- aquisição de novos equipamentos e manutenção dos existentes em funcionamento no CIDEF;

- retribuição a técnicos investigadores e a outros colaboradores indispensáveis;

- comparticipação em rendas, despesas de secretariado e outras da APII.

Este apoio material que estimamos em 500 contos anuais, parece-nos indispensável, aliado, aliás, ao valioso apoio moral, cultural e pedagógico que o MEC já afirmou estar no firme propósito de dispensar a estas actividades, ao mesmo tempo científicas e filantrópicas, por virtude dos superiores valores humanos em questão, pois visam um estrato especial da sociedade que pela sua qualidade e pelo número apreciável de cidadãos que abrange, merece atenção e carinho excepcionais.

 

A Técnica ao serviço da Reabilitação

 

Painel traseiro do optacon

Optacon

A pessoa cega pode sentir, tateando com o dedo, toda a representação. O dispositivo Optacon completo, com câmara, écran táctil e electrónico, tem cerca de 2x6x8 polegadas. O Optacom trabalha a bateria.

Pessoa cega a ler horário de autocarro na via pública com o optacon

Aplicação prática de invento português já comercializado nos Estados Unidos. Com este aparelho um cego pode ler 80 palavras por minuto escritas em caracteres comuns.

Pessoa a ler documento impresso com o Optacon

Referência: Filipe, Jaime – “CIDEF - Centro de Inovação para Deficientes”. Inventiva n.º 17. Associação Portuguesa para a Invenção e Inovação. Novembro 1974.
Conversão por OCR revista por Francisco Godinho