Revista Inventiva N.º 24 SET/OUT 1977 Boletim CIDEF N.º 5

13-10-1977 17:45

Cabeçalho do Boletim CIDEF N.º 5, de Set-Out 1977

DAR "VISTA" AOS CEGOS
 
Fomos encontrar o Eng ° Jaime Filipe no seu local de trabalho. O chefe do Serviço de Formação e Aperfeiçoamento Profissional da Radiotelevisão Portuguesa. Pessoa muito calma e simpática, contou-nos as suas aventuras no campo da invenção e também as suas desilusões. 
 
Mostrou-nos um exemplo: um OPTACON, sistema de leitura para cegos, nasceu nos Estados Unidos devido aos esforços conjuntos de uma empresa e um departamento universitário. O meu electrovisor, registado em Portugal em 1959, é a base daquele aparelho para invisuais. Apesar de o OPTACON estar hoje espalhado pelo mundo, não existe nem um em Portugal. Chegou a ser atribuída uma verba de 1000 contos para um centro destinado a cegos, munido de alguns daqueles aparelhos, mas essa verba acabou por ser destinada para outros fins. Estou agora a espera de uma ajuda da Junta Nacional de Investigação Cientifica...»
 
Também o electrovisor que valeu ao eng.° Filipe uma medalha de ouro em Bruxelas, em 1972, não melhorou a condição dos cegos em Portugal, por falta de apoio. 
 
Quanto ao “Músculo eletromagnético», pelo qual lhe foi atribuída uma medalha de prata dourada, recentemente em Genebra, é uma invenção com aplicação em próteses. A inovação é a utilização de motores lineares em vez dos rotativos, o que que permite individualizar determinados movimentos, por exemplo os de cada dedo de uma mão.
 
O eng' Jaime Filipe tem dedicado grande parte da sua vida à investigação aplicada aos deficientes.
 
“O Dia”  Foi a primeira vez que participou num certame internacional?
 
Eng. J.F. -Não, já em 1972 no XXI Salão Internacional de Bruxelas apresentei o electrovisor para cegos, que permite transformar em sons a escrita corrente e com o qual ganhei uma medalha de oiro.
 
“o Dia”  - Agora no 5° Salão Internacional de Genebra foi premiado Polo invento de músculo eletromagnético. - Gostávamos que nos explicasse o seu funcionamento.
 
J.F.-O musculo eletromagnético nasceu no dia em que encontrei um militar deficiente que tinha perdido as mãos e a vista. Observei de perto a prótese moderna de fabrico alemão, que aquele jovem utilizava. Mais tarde registei a patente do músculo eletromagnético por motor linear, animado a energia elétrica, em que são utilizados motores lineares em vez dos sistemas rotativos habitualmente utilizados, com a grande vantagem de permitir a variação da velocidade dos movimentos. Essa prótese permite que um deficiente consiga uma força de 2 kg em cada dedo, sendo os movimentos os mais parecidos possíveis com os das pessoas normais. Lentos ou rápidos conforme se desejar.
 
“O Dia” Por que razão os seus inventos, mesmo depois de reconhecidos a nível internacional, não são industrializados e comercializados?
 
J.F. - É de facto lamentável que fiquem parados sem que ninguém se interesse por eles, pois trariam, decerto, uma grande entrada de divisas no nosso Pais. O caso do electrovisor para cegos, por exemplo, que os americanos adaptaram 7 anos depois de eu ter criado e que é agora usado correntemente nos Estados Unidos. Também o sistema “Mellotron” de que atualmente é utilizado pelos melhores grupos musicais mundiais. Em 1959, sob o nome de “Orquestrola” registei algo idêntico que ninguém quis aproveitar.
 
“O Dia” Sabemos quo tern recebido convites para trabalhar no estrangeiro...
 
J.F. - Sim, mas gosto muito do meu País, que apesar de tudo, não quero deixar.
 
“O Dia” Tem mais alguns projetos em vista?
 
J.F.-Tenho dois projetos muito ambiciosos em vista, digo ambiciosos porque são onerosos. Um deles trata-se de uma televisão em relevo em que serão utilizados raios «Laser».
 
“O Dia”  - Recebe algum financiamento para os seus trabalhos?
 
J.F. - Sou eu que financio todas as minhas descobertas, às quais dedico todos os meus tempos livres. Este ano foi a primeira vez que inventores portugueses participaram num certame internacional com o auxílio da Junta de Investigação Cientifica e Tecnológica, que subsidiou o transporte dos inventos. Também a Associação Portuguesa de Criatividade, de que eu sou membro e a qual pertencem o eng.° Duarte Fonseca e o coronel Alves dos Santos muito contribuiu para a ida dos inventos portugueses a este 5º Salão de Genebra.
 
(Extracto do jornal “O Dia” )
 
BRAÇADEIRA PARA SUPORTE DE OBJECTOS DIVERSOS

Amputado de mão usando um suporte para manipulação de um lápis

 

Trata-se de um pequeno acessório que pode ser utlizado por amputados dos membros superiores de fácil adaptação, e grande versatilidade, para o lápis, a caneta. Podem ser aplicados também a colheres, a garfos ou qualquer outro utensilio de cabo.
 
 
APARELHAGEM AUXILIAR PARA PESSOAS INVALIDAS
 
O Centro de Artigos Auxiliares da Fundação de Pessoas inválidas em Londres que contém mais de 800 dispositivos cuidadosamente selecionados para ajudar as pessoas inválidas, é visitado com frequência por pessoas e organismos estrangeiros, que vem na maior parte obter informações para criarem centros semelhantes nos respetivos países.
 
A Austrália e a Nova Zelândia, por exemplo, figuram entre os primeiros países com projetos planeados de centros deste género e, na opinião do presidente da Fundação Lady Hamilton e provável que os Estados Unidos da América seja o próximo país a cria-los, bem como o Canada, que se mostra bastante interessado.
 
Apesar de todos estes projetos se inspirarem no que em Londres é já uma realidade, cada centro será inteiramente independente da fundação e seguirá as linhas de funcionamento adequadas ao país onde for estabelecido.
 
O Centro de Londres, que reivindica ser o primeiro do seu género em todo o mundo, foi inaugurado há cinco anos e é visitado anualmente por umas 9000 pessoas. A sua finalidade é proporcionar toda a espécie de informação e realizar demonstrações para pessoal médico e paramédico, funcionários dos serviços de saúde, pessoas invalidas ou seus familiares.
 
Existem centros mais pequenos em duas cidades de província e um terceiro será inaugurado em breve. 
 
No centro de Londres são exibidos desde os artigos mais simples aos equipamentos mais sofisticados, todos eles destinados a facilitar a vida de pessoas deficientes ou inválidas, desde os mais originais mecanismos que voltam as páginas dos livros a grandes elevadores que levantam as pessoas das cadeiras de rodas ou de dentro das banheiras. Camas articuladas que permitem aos ocupantes colocarem-se em varias posições com o simples pressionar de um botão; há um tipo de cama para pessoas com determinadas incapacidades que Ilhes permite levantarem-se da posição horizontal sem qualquer ajuda. Um dos artigos mais simples, mas bastante engenhoso é um anel que se coloca no dedo como qualquer anel normal, mas que em lugar duma pedra preciosa contem uma lente de aumentar para as pessoas com falta de vista.
 
Por este pequeno exemplo se pode concluir que não se descurou nenhum aspecto da vida diária e há artigos auxiliares para cada sala onde o doente se encontre. As actividades de passatempo não foram igualmente esquecidas, sendo bastante ampla a lista de utensílios, incluindo por exemplo utensílios concebidos para que as pessoas que sofrem de artritismo, inclusivamente em cadeiras de rodas, possam fazer jardinagem.
 
Há no Centro cinco funcionários especializados que fazem as demonstrações e explicam o funcionamento do equipamento que mais interessa aos fabricantes. A este propósito, afirma Lady Hamilton: “Mostrando-lhes os protótipos, esperamos ajuda-los a evitarem um trabalho desnecessário de desenvolvimento». Ao mesmo tempo, ela considera extremamente útil toda a informação que os próprios visitantes podem oferecer sobre determinados auxiliares que utilizem.
 
O Centro deve a sua existência a uma oferta de 50.000 libras feita através de um organismo de beneficência, mas as suas atividades são sobretudo financiadas pelo Departamento de Saúde e Segurança Social da Grã-Bretanha.
 
Aparte a sua função de “expositor” dos dispositivos auxiliares mais recentes, o centro realiza cursos diários sobre matérias tais como “0 uso de Elevadores» e “O use de Cadeiras de Rodas para Adultos”.
 
Os múltiplos projetos levados a cabo pela Fundação incluem estudos sobre vestuários para pessoas doentes e inválidas, jardinagem para os incapacitados e sobre os problemas da incontinência. Há um projeto de três anos dedicado a fazer música mais acessível para crianças deficientes físicas, estudantes e jovens em geral.
 
Uma das realizações mais recentes da fundação é um filme intitulado “Não só espectador” que, segundo se espera, fomentará maiores facilidades recreativas para os inválidos.
 
Há um serviço informativo que responde anualmente a umas 10.000 perguntas, e a Fundação já publicou vários livros sobre a forma de enfrentar os múltiplos aspetos da invalidez.
 
CORNETA ACÚSTICA ELETRÓNICA
Corneta acústica electrónica

Uma nova ajuda que se deixa manejar duma maneira extremamente simples e sem problemas. A corneta acústica eletrónica fica pronta a funcionar sem manipulações complicadas. Por isso esta ajuda auditiva a especialmente indicada para pessoas idosas que tem, por vezes, dificuldade de manejar um aparelho acústico convencional.
 
O Transett a uma verdadeira ajuda de comunicação em todos os serviços tendo relações com pessoas duras de ouvido.
 
O Transett é util para médicos, assistentes sociais, nas casas de pessoas idosas, hospitais, casas de aparelhos acústicos, etc. Graças à bobine telefónica, o Transett é ideal, para pregações nas igrejas, em casa, para emissões de radio e de televisão, etc.
 
Referência:  Filipe, Jaime – “Dar Vista aos Cegos”. Inventiva n.º 24. Associação Portuguesa de Criatividade. Out 1977.
Ficheiro pdf (1,8 MB): Inventiva nº 24 CIDEF nº 5 OUT 1977
Conversão para formato texto: por OCR e revisão de Rui Teles