Legendagem
Artigo de Jaime Filipe no Comércio do Porto
em 12 de junho de 1982
Secção COMO VER TELEVISÃO
O falecido realizador de cinema, Perdigão Queiroga, afirmou numa entrevista transmitida pela televisão, a propósito da dobragem, que «os portugueses não vêem filmes, mas lêem filmes». É uma verdade, que salvo algumas excepções, particularmente devidas à RTP e principal-mente ao Departamento de Programas Infantis, onde surgem dobragens por vezes bem executadas, a grande maioria dos filmes e programas exibidos em Portugal, é legendada.
Não pretendo aqui defender se os programas devem ou não ser dobrados em português ou apresentados na versão original, embora nesse ponto tenha a minha opinião bem clara. Quero sim falar dos processos de legendagem usados em Televisão.
Para começar temos que saber que há duas espécies distintas de suportes de programa: o filme, película fotográfica transparente e a fita magnética (videotape).
Cada um destes suportes exige, corno é natural, tratamento diferente no que se refere a legendagem.
Quanto a técnicas direi alguma coisa, para conhecimento do leitor:
Vamos primeiro ao caso dos filmes:
Esta legendagem pode ser feita por processos químicos. Este é o método que se usa nas grandes metragens que passam nos cinemas, ou mesmo na televisão, embora as grandes metragens para televisão sejam legendadas na RTP.
As distribuidoras recebem o filme com o som original e um texto, o script, que vem na língua original. Este é traduzido e devidamente separado, para corresponder às falas do filme
As legendas, já em português, vão para o Laboratório, onde são feitas placas metálicas com letras idênticas às usadas nos jornais, e introduzidas na máquina de legendar.
O filme, por sua vez, é coberto de parafina e ao passar na máquina, é gravada a legenda na parafina, abrindo-se assim um sulco correspondente à forma da letra. Depois o filme passa por um banho de uma espécie de lexivia que «come» a emulsão, ficando portanto as letras gravadas.
Segue-se a operação de retirar a parafina, o que se faz por temperatura.
A este processo dá-se o nome de legendagem química, a qual porém não se executa na TV. Há outros meios mais práticos em televisão, os quais passamos a descrever.
Vejamos: o filme original, traz script ou não traz script. Neste último caso, os diligentes e competentes tradutores da RTP, têm que o tirar palavra por palavra, a partir de uma cassete de áudio, vídeo cassete, ou do próprio filme. Feito o script, vai-se proceder à legendagem, a qual recorre a processos electrónicos, que vamos descrever.
O filme passa no Telecinema. Aqui a imagem óptica, é convertida em imagem de televisão - electrónica.
A RTP está equipada com uns aparelhos como o representado na figura, aos quais chega a imagem do filme vinda do Telecinema. Na máquina são introduzidas as legendas escritas, em papel perfurado em forma de «harmónio», (como algumas cabulazinhas dos estudantes). Cada folha do harmónio tem oito legendas.
O tradutor comanda a passagem das legendas fazendo-as coincidir com as falas do filme. A imagem das legendas é captada por uma câmara de TV incorporada no aparelho, e é inserida electronicamente. O conjunto legenda-filme é gravado em videotape, ficando desta forma imagem e legendas, registadas em fita magnética.
É assim que é feita a grande maioria dos programas legendados que a RTP transmite.
Mas há um terceiro sistema, chamado inserçor de caracteres.
Quando o espectador vê certos títulos coloridos, ou mesmo subtítulos com nomes de pessoas ou horários de programas, ou ainda genéricos, a origem destas legendas é o inserçor de caracteres.
Aqui temos um processo puramente electrónico, em que são metidas na própria régie, por meio de um aparelho apropriado. A inserção de caracteres é feita no momento sem que o programa está a ser gravado, ou transmitido, sendo apenas para informações pontuais, não sendo prático legendar um programa por este processo, embora já haja legendadores com memórias pré-programáveis, que em próximo futuro equiparão a RTP.
Cada vez há maior variedade de tipos de letras coloridas, as quais valorizam os programas, usando-se mesmo em genéricos.
Vamos agora dar uma ideia, embora muito breve, do processo de legendagem electrónica. Há duas formas diferentes, pois há dois tipos de aparelhos distintos.
A um deles poderá chamar-se «gerador de caracteres», pois ele produz um sinal de vídeo contendo os caracteres em todo análogo ao sinal de imagem, e que é enviado para a mesa de mistura da régie (vide crónica de 10 de Abril - O Complexo TV + 2), tal como qualquer outra origem de programas.
A mesa de mistura tem forma de incluir estes caracteres por sobreposição ou por inserção.
Ao outro chamar-se-á mesmo inserçor de caracteres, pois que a imagem do programa, (sinal de vídeo) entra neste aparelho e sai já com os caracteres inseridos. Assim o aparelho «rompe» a imagem «retirando» dela a forma correspondente aos caracteres e, por sua vez, insere-os naquele espaço aberto. Claro que está a pensar na imagem em linhas. O inverso interrompe a linha que faz o programa e mete a sua informação, correspondente à parte A caracter que a linha contém obedecendo ao comando do operador deste equipamento.
Falámos de legendagem, assunto importante em televisão, sem o qual não teríamos acesso à maioria dos programas. Complicado? Espero que não! Se não me fiz entender, leia mais uma vez, com calma e ficará a saber um pouco mais sobre televisão.
Os programas legendados têm grande importância para a pessoa surda, que as há na ordem das dezenas de milhar, sendo a única forma de «entenderem» o que se está a passar na imagem.
Em alguns países a legendagem atinge o próprio telejornal, apesar de falado na língua original, para que as pessoas surdas possam ter acesso aos noticiários.
No sector de legendagem da RTP trabalha-se «no duro» para que os programas surjam a tempo e horas contorne os mapas-tipo e os alinhamentos de emissões.