Inventiva - Boletim Informativo n.º 4 - Setembro de 1985

16-09-1985 17:02

PROBLEMÁTICA DO DEFICIENTE
INDEPENDENT LIVING!
(VIVER INDEPENDENTE)

No panorama actual da vida portuguesa, as possibilidades de emprego para as pessoas deficientes são diminutas, devido a factores de vária ordem: falta de legislação adequada; inexistência de uma consciencialização colectiva dos aspectos sociais e económicos; falta de preparação cultural e profissional para uma acção concorrencial no mercado de trabalho; crise generalizada no sector laboral. Estes factos tornam quase impossível à pessoa deficiente o desempenho de qualquer actividade profissional. Fala-se com frequência na existência de um milhão de deficientes. Não havendo dados estatísticos, este quantitativo carece, porém, de alguma reflexão.

Sem se sair do campo das hipóteses, porquanto o referido quantitativo é hipotético, embora não muito longe da realidade, mas servindo-nos de estatísticas estrangeiras, teríamos por comparação, cerca de 3% da população deficiente profunda em Portugal.

É mais sobre este valor que vamos reflectir, dado que do milhão estimado, muitos deficientes têm muitas possibilidades de acesso ao mercado de trabalho, estando mesmo muitos a desenvolver em pleno funções, em diversas empresas privadas e em organismos públicos.

Deficiente, pode ser um individuo sem um dedo, mas também pode ser um tetraplégico. Há um grande número de instituições, melhor ou pior instaladas, que se dedicam a minorar tão vasto problema.

Na sua maioria são organizações filantrópicas, em que intervêm pessoas de grande dedicação, as quais vêm dando o melhor do seu esforço, visando particularmente as crianças. Digamos que as crianças deficientes encontram quase sempre quem delas se ocupe, de forma mais ou menos organizada. O mesmo não se verifica com os adolescentes e principalmente com os adultos. Muitas vezes saem dessas instituições, indivíduos profissionalmente habilitados, mas sem qualquer hipótese de encontrar trabalho onde quer que seja.

As sociedades mais avançadas tecnologicamente, e onde se procura contabilizar os custos em aspectos onde comummente não se fazem contas, começaram a pensar nos pesados encargos que os deficientes profundos representam para as sociedades modernas.

Em outros países, porém, um deficiente bi-amputado dos membros inferiores, não é mais do que um candidato a pedinte nas ruas centrais da cidade. Os deficientes profundos mobilizam pesados investimentos desde a sua reabilitação à integração no mundo do trabalho, mas há que os tornar produtivos na medida do seu grau de incapacidade, ou antes, pelo inverso, do seu grau de aproveitamento para determinadas tarefas.

Um deficiente não produtivo necessita normalmente da assistência de mais uma a três pessoas, para dele cuidarem, pelo que sem grande risco de exagero poderemos pensar que em Portugal pelo menos seiscentas mil pessoas estão impossibilitadas de darem o seu contributo à economia do Pais, sendo, antes pelo contrário, naturais consumidores - apenas consumidores.
 

INDEPENDENT LIVING

E um grito que se ouve nas sociedades mais evoluídas quando se pensa libertar as pessoas deficientes, através da moderna tecnologia. É uma nova mentalidade que está a surgir.

Ela entende que é necessário dar ao deficiente a possibilidade de, por si só, resolver quase todos os seus problemas. Para tal há que investir na investigação, em busca de novas formas de o tirar do mobilismo, e criar novos conceitos arquitectónicos além de inventar um sem número de melos capazes de tornar o autossuficiente.

                                                                 Jaime Filipe