Inventiva - Boletim Informativo n.º 1 - Dezembro de 1984

17-12-1984 00:14

Dr. Raul Junqueiro visita a A.P.C.

O Senhor Secretário de Estado das Comunicações acedeu ao convite que lhe foi dirigido pela APC, para visitar as nossas instalações e inteirar-se das actividades que estão a ser desenvolvidas pelo CIDEF no campo da Informática para deficientes.

Após a visita, proferiu algumas palavras de incitamento tendo-se referido elogiosamente ao trabalho que vimos desenvolvendo no campo da integração laboral dos jovens através de cursos de especialização destinados a preparar os deficientes com habilitação que lhes permita concorrer ao posto de trabalho em igualdade de condições com os outros candidatos não deficientes.

A necessidade de se passar para a segunda fase de ensino, depois de se terem feito já cursos em BASIC, implicava a aquisição de um novo equipamento, facto que por si só constituiria um grande obstáculo dados os pequenos recursos da Associação.

O senhor Secretário de Estado das Comunicações, mostrando uma grande compreensão e receptividade, informou que iria desenvolver esforços para que a APC fosse dotada com um novo computador “ENER”, de fabrico Nacional, o qual nos permitiria iniciar em breve os cursos de COBOL, além de permitir dois postos de trabalho simultâneos usando o computador já existente.

A APC agradece publicamente ao Senhor Secretário de Estados a valiosa comparticipação, a qual vem a enriquecer o nosso património e permitir alargar de forma muito significativa o campo das nossas actividades num próximo futuro, facto que é motivo de regozijo para a Associação e para os alunos que virão a beneficiar de novos meios que a Secretaria de Estado nos vai proporcionar.

Ao Sr. Dr. Raul Junqueiro, ilustre Secretário de Estado das Comunicações, o reconhecido agradecimento da Associação Portuguesa de Criatividade.

 

CURSO DE INFORMÁTICA PARA DEFICIENTES

Em Outubro p.p. iniciou-se o 3.ºº Curso de Informática, dirigido a deficientes físicos, com a frequência de 12 alunos e virado para a área de programação.

Pretende-se uma formação bastante prática e, para tal, monitores e alunos utilizam o computador do Centro, o “APPLE II”, que limita o ensino à linguagem BASIC, único software disponível. Para os invisuais existe um aparelho utilitário, o “VERSABRAILLE”, que comunica com o computador emitindo e recebendo mensagens descodificadas em Braille. O aluno invisual pode, assim, construir os seus programas em BASIC, recebendo, quando necessário, as respostas do computador.

Tanto quanto sabemos, a iniciativa de formação em Informática a deficientes físicos é inédita no País e pretende torná-los aptos ao ingresso numa actividade que lhe pode abrir perspectivas de outro tipo de realização pessoal e profissional, além de poderem, dum modo mais directo, acompanhar o progresso tecnológico.

Não fora a eterna falta de apoio e até a secundarização ou mesmo marginalização do deficiente e os objectivos do CIDEF poderiam quase todos ser atingidos.

Dum aluno que terminou o curso anterior transcrevemos as seguintes opiniões:

- “Bom, tenho um curso de Informática, sinto-me apto a programar. Mas…e agora?”

- "A vossa iniciativa é louvável só que vai ser extremamente difícil, para mim, poder usufruir desta experiência."

Sobre o assunto o CIDEF sentiu-se particularmente sensibilizado e pensou desenvolver projectos que pudessem ajudar a situação:

  • Criar um Gabinete de Informática para prestação de serviços, a que a programação seria desenvolvida exclusivamente por deficientes
  • Alargar a área de ensino a outras linguagens nomeadamente COBOL.
  • Especificamente para os invisuais, torná-los mais aptos a comunicar com a máquina, uma vez que o “VERSABRAILLE”, é por vezes pouco fiável e lento.

Penso o CIDEF que seria necessário adquirir outra máquina e, depois de envidar uma séries de esforços, conseguiu a oferta, hoje plenamente confirmada, de um novo Micro – O “ENER 1000”, que pode alargar a área da programação.

Para os invisuais, tentou-se um projecto de voz para computador e uma impressora de BRAILLE, que poderiam ser aplicáveis a vários tipos de máquinas e seriam um handicap  extremamente positivo para o emprego de invisuais. Com ambas as intenções não pode o CIDEF, até agora, prosseguir porque não tem meios económicos de os subsidiar.

Está, no entanto, latente a ideia de aquisição de um Processador falante específico.

Enfim, admitimos que as nossas iniciativas em favor dos deficientes hão-de continuar.

Um dia um aluno nosso há-de poder dizer: - Sou um profissional de Iinformática
 

                                                                        Fernando Gonçalves